Viajar em família é uma das experiências mais enriquecedoras que se pode viver. No entanto, o custo elevado de hospedagens, a falta de flexibilidade em roteiros e o desejo por uma conexão mais íntima com a estrada e a natureza têm levado muitas pessoas a buscarem alternativas ao turismo tradicional. Nesse contexto, surge a ideia de transformar carros de 7 lugares em pequenos motorhomes — uma solução criativa, econômica e funcional que alia liberdade e conforto para famílias que desejam explorar novos horizontes sem abrir mão da praticidade.
Essa tendência se aproxima do conceito de “slow travel”, termo popularizado por Carl Honoré, autor de “Devagar: Como um Movimento Mundial Está Desafiando o Culto à Velocidade”. Segundo Honoré, o verdadeiro valor da viagem está em aproveitar o caminho, em desacelerar para absorver as experiências com profundidade e autenticidade. Adaptar um carro para viver momentos sobre rodas representa justamente esse estilo de vida mais leve, no qual o destino é importante, mas o trajeto se torna parte fundamental da jornada.
A escolha de um carro de 7 lugares como base para esse projeto não é aleatória. Veículos dessa categoria já oferecem vantagens como espaço interno amplo e bancos versáteis, que podem ser rebatidos ou removidos, permitindo a criação de áreas multifuncionais — cama, sala e até cozinha portátil. Além disso, apresentam menor consumo de combustível e custos de manutenção mais baixos em comparação com motorhomes tradicionais ou vans camperizadas. Como defende o arquiteto e urbanista Jan Gehl, autor de “Cidades para Pessoas”, a infraestrutura deve se adaptar às necessidades humanas, e não o contrário. Essa lógica pode ser aplicada também à mobilidade: ao transformar o próprio carro em abrigo, a família cria um ambiente adaptado às suas rotinas, ritmos e desejos.
A transformação envolve etapas práticas, como montar um sistema de cama com colchão dobrável, organizar o espaço com caixas empilháveis, garantir conforto térmico e privacidade com cortinas blackout ou placas isolantes, além de incluir itens básicos como um cooler portátil, fogareiro, luz LED e power bank. Outro ponto importante é a higiene: duchas portáteis, toalhas umedecidas e paradas estratégicas em postos e campings garantem praticidade mesmo longe de uma estrutura convencional.
O planejamento de rotas também é essencial. Aplicativos como Park4Night e iOverlander auxiliam na localização de pontos seguros para pernoite, locais com estrutura e áreas de camping gratuito. A tecnologia, nesse caso, atua como facilitadora de experiências mais livres, conectadas à natureza, mas sem abrir mão da segurança e da organização.
Em tempos de inflação e incertezas econômicas, essa alternativa de viagem se destaca não apenas pela economia, mas pelo resgate de valores como a simplicidade, o convívio familiar e a autonomia. Viajar com o próprio carro adaptado é, em última análise, uma forma de reconexão com o essencial — algo que muitos procuram após períodos de isolamento social e mudanças profundas no estilo de vida.
Portanto, transformar um carro de 7 lugares em um mini motorhome representa mais do que uma solução prática para viagens em família: é uma manifestação de um novo paradigma de mobilidade, lazer e habitação temporária. Como sintetiza Carl Honoré, “viver devagar não significa fazer tudo em ritmo de tartaruga. Significa fazer tudo na velocidade certa”. E, talvez, essa velocidade certa seja mesmo aquela que nos permite ver o mundo da janela de um carro transformado em lar